Os EUA Rumo ao Retorno dos Aviões Supersônicos
Após mais de 20 anos desde a última tentativa da Europa de criar um avião supersônico de passageiros, os Estados Unidos estão se aproximando de trazer essa experiência de volta. O que antes foi um sonho, pode se tornar realidade novamente com os avanços tecnológicos de empresas americanas.
Boom Supersonic e o Avanço da Tecnologia
A Boom Supersonic, uma empresa com sede no Colorado, está desenvolvendo o que promete ser o primeiro avião supersônico de passageiros do mundo desde o famoso Concorde. Embora o modelo final para passageiros ainda esteja em desenvolvimento, a empresa alcançou um feito importante ao quebrar a barreira do som com seu protótipo em escala, conhecido como "Baby Boom" ou XB-1. Recentemente, o avião de teste alcançou a velocidade de Mach 1,05, aproximadamente 11 minutos após a decolagem.
De acordo com Blake Scholl, fundador e CEO da Boom, essa conquista mostra que a tecnologia necessária para o voo supersônico de passageiros já existe. Ele elogiou a dedicação de uma pequena equipe de engenheiros que conseguiu realizar o que antes era tarefa apenas para governos com orçamentos enormes.
O XB-1 é fabricado quase que totalmente em fibra de carbono leve e utiliza um sistema de realidade aumentada para ajudar na aterrissagem, já que o design do avião, com seu nariz longo e ângulo de aproximação acentuado, pode dificultar a visão dos pilotos.
O Futuro da Aviação Supersônica é Sustentável
A CEO da Associação Nacional de Aeronáutica, Amy Marino Spowart, enfatizou que não é apenas viável ter voos comerciais mais rápidos, mas também que isso pode ser feito de maneira sustentável. O projeto do avião chamado Overture, da Boom, pretende ser o primeiro avião comercial a voar mais rápido que a velocidade do som em mais de 20 anos.
Histórico dos Aviões Supersônicos de Passageiros
Historicamente, a década de 1950 foi marcada pela crença de que o voo supersônico era o futuro das viagens aéreas. Com o motor a jato dominando, importantes fabricantes como Boeing e Lockheed tentaram criar modelos que pudessem operar nessa nova faixa de velocidade. No entanto, somente dois modelos conseguiram voar: o russo Tupolev Tu-144 e o britânico-francês Concorde. O Concorde teve uma vida útil de 1976 até 2003, mas por que outros modelos nunca chegaram a ser produzidos?
Desafios do Concorde
O Concorde foi um ícone, mas enfrentou vários desafios que levaram à sua desaceleração. Problemas como o ruído excessivo, o consumo elevado de combustível e o custo dos bilhetes tornaram sua operação complicada. Durante o período de pico, o Concorde era bastante solicitado, com mais de 100 encomendas de companhias aéreas, porém muitos desses pedidos acabaram sendo cancelados devido a essas preocupações.
Com o aumento dos custos do combustível após a crise do petróleo em 1973, as companhias aéreas tornaram-se cautelosas. O Concorde apresentava uma eficiência de 15,8 milhas por galão (aproximadamente 6,7 km por litro), muito menos do que os aviões convencionais daquela época, como o Boeing 747, que alcançava 46,4 milhas por galão.
Além disso, o barulho da explosão sônica do Concorde causou desconforto a quem vivia perto das rotas de voo, resultando em proibições de sobrevôos supersônicos sobre áreas habitadas. Como consequência, o Concorde voava em velocidade subsônica até alcançar o mar, limitando suas rotas principalmente entre Europa e EUA e tornando seu uso menos atraente.
Desafios com a Estrutura de Preços e Acidente Fatal
A necessidade de cobrar preços altos para cobrir os custos operacionais fez com que as passagens fossem consideradas luxuosas. Por exemplo, um bilhete de ida e volta entre Londres e Nova Iorque custava cerca de 12.000 dólares em 2003, o que equivale a aproximadamente 66.000 dólares hoje, ajustando pela inflação. Mesmo com preços altos, muitas passagens foram vendidas, mas a experiência do passageiro foi marcada por desconfortos.
O acidente fatal de um Concorde da Air France em 2000, que resultou na morte de 113 pessoas, trouxe um impacto devastador ao programa. Os custos elevados de manutenção e as mudanças no mercado levaram à aposentadoria dos últimos Concordes em 2003.
Perspectivas da Boom Supersonic
A Boom Supersonic afirma ter abordado as questões de ruído, custo e eficiência que derrubaram o Concorde. Seu modelo Overture não utilizará pós-combustores, o que deve reduzir o consumo de combustível e o barulho. Além disso, o interior do Overture promete ser mais confortável e silencioso, o que visa oferecer uma experiência muito superior à do Concorde.
Para o Overture, a empresa desenvolveu um motor que promete alta eficiência e a capacidade de operar com combustível de aviação 100% sustentável, ainda que não disponível em larga escala. Embora a explosão sônica não tenha sido completamente eliminada, o design aerodinâmico é mais otimizado, permitindo ao Overture voar a Mach 0,94 sobre a terra sem ultrapassar a barreira do som.
A Boom já recebeu pedidos de 130 dos novos aviões e planeja iniciar operações comerciais em 2029. Se a empresa conseguir evitar os erros do passado, as viagens supersônicas podem retornar como uma opção viável e acessível para passageiros ao redor do mundo.