O vereador Rafael Satiê, que faz parte do PL e é o único homem negro na bancada do seu partido, enfrenta uma situação de racismo durante uma sessão da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Na terça-feira, 15, ele estava discursando a favor da proposta que visa permitir o armamento da Guarda Municipal, quando um grupo de manifestantes que se opunha à medida começou a gritar ofensas racistas, chamando-o de “capitão do mato”.
Essa expressão tem um significado histórico pesado, pois remete a um período colonial em que capitães-do-mato, frequentemente negros, eram responsáveis por capturar escravizados que tentavam fugir. Utilizar essa expressão como xingamento tem a intenção de deslegitimar a presença e a atuação de lideranças negras, especialmente aquelas que têm uma visão política conservadora.
Enquanto Satiê falava, ele destacou que a Guarda Municipal é composta em sua maioria por pessoas negras e pardas. Ele defendeu que acusar a guarda de ser opressora é uma distorção da realidade. Durante sua fala, o presidente da Câmara, Carlo Caiado, teve que suspender a sessão por causa do tumulto e a segurança foi chamada para lidar com a situação.
Rafael Satiê é vereador em seu primeiro mandato, tendo sido eleito com cerca de 13 mil votos. Suas bandeiras de campanha incluem segurança pública, combate ao racismo e educação financeira. Em seu pronunciamento, ele se comprometeu a não se calar frente a esse tipo de ataque, afirmando que não se deixará “cancelar” por suas convicções, independentemente de sua cor ou ideologia.
Em uma entrevista, Satiê explicou que a hostilidade aumentou quando alguns vereadores de partidos de esquerda passaram a usar argumentos ideológicos para criticar a proposta, insinuando que a Guarda Municipal usaria armas contra os mais pobres, negros e favelados. Ele respondeu com estatísticas sobre a composição da corporação, enfatizando que a maioria dos guardas é composta por pessoas negras e que o comandante-geral também é.
Após sua defesa, ele se deparou com uma onda de xingamentos de teor racista, originados de um grupo que ele identificou como apoiadores do PT e do PSOL. Satiê relatou que escutou gritos de “Capitão do Mato”, uma expressão que, embora familiar para ele e outros ativistas conservadores negros, continua a ser racismo e configura crime.
Para Satiê, as ofensas não só atacaram sua posição política, mas também sua dignidade pessoal. Ele declarou que não se intimidou e enfrentou os insultos de cabeça erguida. Ele também expressou orgulho de sua identidade e ressaltou que sua mãe o ensinou a combater o racismo sem se vitimizar.
Além disso, o vereador criticou a atuação de alguns setores do movimento negro e da militância progressista, alegando que em muitos casos eles perpetuam um “racismo disfarçado” ao tentar impor uma única perspectiva sobre a comunidade negra. Satiê afirmou preferir enfrentar pessoas racistas abertamente do que lidar com aqueles que, embora se apresentem como antirracistas, na verdade, restringem a liberdade de pensamento dos negros.
Como resposta aos ataques racistas que sofreu, ele fez um boletim de ocorrência em uma delegacia especializada e planeja processar os envolvidos. Satiê enfatizou que se trata de um crime “inafiançável” e que está determinado a enfrentar legalmente seus agressores.