Os governantes brasileiros frequentemente iniciam obras que não são concluídas, inauguram projetos pela metade e muitas vezes celebram a abertura de estruturas que já não são novas. Esse fenômeno é recorrente e causa grande preocupação sobre como os recursos públicos são gastos. Um exemplo clássico é o Estádio do Maracanã, que começou a ser construído em 1948 para a Copa do Mundo de 1950, mas só foi finalizado em 1965, mais de 15 anos depois de a obra ter sido iniciada.
Esse padrão se repetiu em projetos relacionados à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016. Um caso notável é uma linha de metrô em São Paulo, que deveria estar pronta para a Copa de 2014, mas 11 anos depois ainda não foi inaugurada. Muitas dessas obras foram deixadas inacabadas ou foram abandonadas, e há um site que lista todas essas obras que não foram finalizadas. Além disso, várias construções, mesmo que tenham sido completadas, logo deixaram de ter utilidade, como a vila olímpica em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. As autoridades parecem pouco preocupadas com a forma como o dinheiro dos impostos está sendo usado, o que gera um sentimento de desperdício entre os cidadãos. Em alguns casos, os custos de grandes obras ultrapassam as gerações, como foi o caso da construção de Brasília na época do presidente Juscelino Kubitschek.
A COP30 em Belém
Atualmente, o presidente Lula está se preparando para mais um grande evento, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30, que ocorrerá em novembro de 2025 em Belém do Pará. Esse local foi escolhido por sua proximidade com a Amazônia, uma área vital para a preservação ambiental. Porém, o estado do Pará apresenta um dos piores índices de saneamento do Brasil. Apenas 45,5% da população tem acesso à água tratada e apenas 7,7% à rede de esgoto. Em Belém, a situação é ainda mais crítica, com apenas 17% dos 1,3 milhão de habitantes sendo atendidos por esgoto.
Como consequência dessa situação precária, o governo está planejando uma série de obras e melhorias em Belém, visando estar preparado para receber cerca de 60 mil pessoas durante o evento. Os gastos para essas adequações estão estimados em R$ 6 bilhões e incluem a construção de dois hotéis, já que a cidade não possui um número suficiente de leitos, além de melhorias em parques, dragagem de canais, e aperfeiçoamento de ruas e portos. Em um esforço para garantir a segurança na cidade, que enfrenta problemas com a violência, foram alocados R$ 31 milhões pela Polícia Federal e R$ 17 milhões pelo Ministério da Defesa.
O discurso oficial afirma que o evento trará um grande legado para Belém. No entanto, em outras ocasiões semelhantes, o que foi observado é que os investimentos foram feitos, mas o legado significativo não apareceu, resultando em estruturas subutilizadas e em dívidas que permanecem. Além disso, o financiamento do evento apresenta falta de transparência, como a contratação da Organização dos Estados Ibero-Americanos para planejar a COP30, no valor de R$ 478 milhões, sem licitação.
O financiamento da COP30 envolve recursos do BNDES, que contribuirá com R$ 2,3 bilhões, outros R$ 1,3 bilhões da Itaipu Binacional e R$ 1,4 bilhão do governo do Pará. Para se ter uma ideia, os R$ 6 bilhões destinados à realização do evento superam o orçamento total da cidade de Belém, que é de R$ 5 bilhões para 2025, representando um custo significativo em relação às prioridades de saúde e infraestrutura, especialmente considerando os cortes realizados no orçamento do Ministério da Saúde em 2024, que totalizaram R$ 4,4 bilhões.
Em resumo, mais uma vez estamos diante de uma imensa despesa em um evento que pode não atender às necessidades mais urgentes da população brasileira. É uma situação que levanta preocupações sobre as prioridades na gestão do dinheiro público, especialmente em um país que enfrenta sérios problemas de infraestrutura e saúde.