Um dia após minimizar a gravidade da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente Jair Bolsonaro mudou seu tom e admitiu que “falou demais” ao usar a expressão “caguei” em relação à possibilidade de ser preso. Em uma entrevista exclusiva, Bolsonaro afirmou: “Ontem eu falei demais sobre a prisão, até falei um palavrão, e depois vi que não poderia ter falado aquilo. É o tempo todo falando de prisão, qual foi o crime que cometi?”
Esta foi a primeira vez que Bolsonaro se manifestou publicamente após a denúncia da PGR, que inclui ele e mais 33 pessoas sob acusação de crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, organização criminosa, danos ao patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Bolsonaro se posicionou ao afirmar que a ação judicial contra ele é uma tentativa de eliminar a presença de conservadores nas próximas eleições presidenciais, marcadas para 2026. Ele declarou: “Querem tirar a direita da disputa eleitoral do ano que vem.” Apesar das denúncias, ele destacou que, segundo pesquisa do Paraná Pesquisas, ainda aparece com uma vantagem de cinco pontos porcentuais em relação ao ex-presidente Lula.
Sobre o processo, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar Bolsonaro em 2025. O ministro Alexandre de Moraes, que é o relator do caso, já recebeu a denúncia e abrirá um prazo de 15 dias para que os acusados apresentem suas defesas. Após essa etapa, o caso será levado à Primeira Turma do STF, onde os ministros poderão adotar métodos que acelerem o processo, semelhantes ao que foi feito no julgamento do Mensalão, como permitir que testemunhas sejam ouvidas por juízes federais.
A Primeira Turma do STF é composta por Moraes e outros quatro ministros, que foram indicados pelo Partido dos Trabalhadores: Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Flávio Dino. Os ministros nomeados por Bolsonaro, Nunes Marques e André Mendonça, pertencem à Segunda Turma e não participarão deste julgamento.
Bolsonaro contestou a escolha do STF como o foro adequado para seu julgamento, defendendo que o caso seja tratado em primeira instância. Se o julgamento ocorrer no STF, ele argumenta que todos os ministros devem ter direito a voto, acrescentando que, na sua visão, “se eu estou sendo julgado, tem que ser o Plenário do Supremo, o pessoal do 8 de janeiro está sendo julgado pelo Plenário”.
Com essas declarações, Bolsonaro intensifica sua presença no debate público com foco na defesa de sua imagem e tentativa de se manter relevante no cenário político do país.