Deixar minha filha para conseguir me exercitar me deixava culpada. Essa sensação pesada me acompanhava sempre que eu queria sair para correr ou ir à academia. Eu percebi que precisava mudar essa mentalidade e focar nos benefícios que isso traria, tanto para mim quanto para minha filha. Essa nova forma de pensar me ajudou a encorajar a independência dela, além de eu me sentir mais forte e saudável.
No início, eu costumava sair para o meu grupo de corrida bem na hora em que minha filha acordava, que na época tinha apenas 6 meses. Era difícil resistir ao impulso de segurá-la, e isso acabava me fazendo atrasar ou até mesmo perder o treino. Assim que ela estava em meus braços, não conseguia colocar ela de volta no berço, e, sinceramente, não queria. Essa situação começou a se tornar um problema.
Depois de ter dado à luz, estava numa fase de recuperação e precisava desse tempo para me fortalecer novamente. Como eu trabalhava em casa e passava muito tempo com minha filha, sentia falta de interações sociais e essa situação me deixava estressada. Mesmo enquanto a abraçava com carinho, percebia que algo precisava mudar. Eu precisava superar a culpa que sentia por deixar meu papel de mãe de lado, mesmo que não quisesse.
A solução que encontrei foi fazer ‘encontros de exercício’ com amigos. Convidei colegas para correr ou fazer atividades físicas juntos. Para mim, desapontar um amigo parecia mais errôneo do que deixar minha filha por algumas horas. Também avisei meu grupo de corrida com antecedência sobre quando eu estaria presente, pois eles não deixariam passar batido se eu não aparecesse. Esses compromissos com as pessoas ao meu redor me ajudaram a criar uma rotina que eu poderia manter enquanto minha filha ficava quentinha e confortável em casa com o pai.
Eu me convenci de que essa atividade física era importante para eu estar mais presente na vida da minha filha no futuro. Como mãe, quero estar presente em todos os momentos significativos dela, desde a formatura até as decisões sobre sua carreira. Ficar parada em casa todos os dias não seria uma opção se eu quisesse ser essa mãe ativa e presente. Quando a culpa se torna opressora, eu lembro que praticar exercícios agora me ajudará a ser uma mãe mais participativa mais tarde. Embora não haja garantias, é uma jogada que certamente aumenta as chances.
Quando minha filha fez 18 meses e estava bem adaptada ao desfralde, decidi deixá-la numa área de cuidados infantis no meu ginásio. A ideia me deixou nervosa, mas decidi tentar mesmo assim. Quando retornei, a pessoa responsável me deu um toque sobre expectativas para o desfralde, e percebi que minha filha havia se sujado. Prometi para mim mesma que não reiteraria essa experiência.
Por conta da rotina de trabalho do meu parceiro, essa situação teve que mudar. Para conseguir me exercitar, era necessário que eu tentasse deixar minha filha novamente no espaço infantil. Ao entrar, vi que uma garotinha a convidou para brincar, e apesar das lágrimas que eu derramei, consegui fazer meu treino. Ao final, encontrei minha filha super feliz, brincando com os novos amigos que fez.
Desde então, a experiência melhorou. Ela se juntou a um grupo de crianças que ficou animada em reencontrar. Muitas vezes, ao voltar do meu treino, a vejo liderando uma brincadeira com crianças mais velhas ou lendo calmamente em um canto. É gratificante saber que ela consegue ser ela mesma sem a minha presença o tempo todo. Isso será muito útil quando ela começar a pré-escola em agosto.
Enquanto ela se torna mais independente, estou também me redescobrindo como mãe. Estou levantando pesos maiores e correndo com mais frequência. O mais importante, porém, é que estou orgulhosa de mim mesma. Fisicamente e emocionalmente, sinto que melhorei, e isso me transforma em uma mãe melhor para minha filha. Curiosamente, quanto mais eu abraço o lado que tenho fora da maternidade, mais habilidade eu tenho em desempenhar meu papel como mãe.