Eu sou a responsável pelas finanças da minha casa, onde moro com meu parceiro. Trabalho em um emprego de entrada de dados, onde minha rotina consiste em inserir números, editar registros e aprender novos softwares para me manter atualizada em um mercado de trabalho em constante mudança. O dia a dia nesse trabalho é bem repetitivo, e não consigo me sentir satisfeita com isso.
O salário que recebo cobre a maior parte das despesas da casa, como a prestação da hipoteca, contas de luz e água, impostos e um cartão de crédito. Acredito que a remuneração é razoável para o que faço, mas isso não torna meu trabalho interessante. É um trabalho que me deixa com um sentimento de vazio, tanto emocional quanto mental, mas, devido à condição atual do mercado de trabalho, sinto que não posso me dar ao luxo de deixar essa posição. Além disso, sou a única que trabalha em tempo integral na nossa casa.
No entanto, encontrei uma forma de satisfação pessoal em um trabalho paralelo como escritora. Essa atividade extra não só me proporciona uma renda complementar, mas também me ajuda a arcar com os custos dos pets e a quitar a hipoteca mais rapidamente. Há momentos em que me pergunto se estou exagerando na carga de trabalho.
Meu emprego de entrada de dados é de segunda a sexta-feira, mas também me dedico diariamente aos meus projetos de escrita, até nos fins de semana. Todo sábado e domingo, acordo antes do meu parceiro e dos gatos para aproveitar algumas horas a mais para escrever. Mesmo assim, a consistência do trabalho como escritora pode variar; há períodos em que tenho vários projetos em andamento e outros em que não tenho nada. Durante os momentos em que não recebo tarefas, aproveito para trabalhar em contos, que ainda não foram publicados. Escrever ficção se tornou uma espécie de terapia para mim, um escape dos desafios do meu emprego. Muitas vezes, enquanto estou no escritório, surgem ideias de personagens e diálogos que posso usar nas minhas histórias. Isso se torna um dos pequenos benefícios que encontro em uma situação desafiadora.
Apesar do cansaço, consigo conciliar essas atividades e ainda tirar longos cochilos nos fins de semana. Isso me proporciona um tempo para recarregar as energias, acordando com os afetos dos meus gatos, que normalmente são meus despertadores para um lanche da tarde. Reconheço que não estou exatamente onde gostaria de estar nesse arranjo de trabalho, mas estou no caminho certo para alcançar algo mais interessante.
Ser a principal responsável financeiramente é uma tarefa difícil, e muitas vezes me preocupo com o futuro. Pergunto a mim mesma: “E se algo acontecer e eu não puder mais trabalhar? Meu parceiro conseguiria manter as contas em dia?” Já enfrentei alguns problemas de saúde devido a essa pressão, como tendinite e dores no pescoço, e isso me fez entender melhor as dores crônicas que meu parceiro enfrenta.
Como sou uma pessoa mais introvertida, minhas necessidades sociais são pequenas, e posso facilmente satisfazê-las com algumas chamadas online com amigos e familiares, que encontro entre um trabalho e outro.
Através da escrita, encontrei um espaço para expandir meus pensamentos e conversar com pessoas que, de outra forma, não teria a chance de conhecer. Isso também me ajuda a lidar com os pequenos estresses diários que meu trabalho provoca. Para mim, a escrita se tornou uma forma de liberar esse peso e encontrar um pouco de alívio emocional.
Embora o trabalho de entrada de dados seja exaustivo, a escrita me renova e ajuda a manter meu equilíbrio emocional. Mesmo que consuma grande parte do meu tempo, ele se tornou um meio importante para buscar mais estabilidade e significado na minha vida.
