Desde a infância, sempre fui uma pessoa que andava rapidamente. Crescendo em estados como Arizona e Michigan, costumava fazer longas caminhadas em meu bairro, mesmo em condições climáticas extremas, como o calor intenso ou o frio rigoroso. Ao iniciar a faculdade em Manhattan em 2013, percebi que esse ritmo acelerado se encaixava perfeitamente na cultura da cidade. Fiquei feliz quando meus pais foram me visitar e comentaram sobre como eu estava no mesmo ritmo das pessoas locais. Com o tempo, passei a achar que andar devagar era algo a ser criticado, especialmente turistas que, em sua maioria, caminhavam de forma mais lenta.
Meses atrás, porém, minha vida virou de cabeça para baixo. Fui diagnosticada com um problema cardíaco que me obrigou a ficar quase dois meses em repouso. Apesar de apenas 29 anos e ter um histórico de boa saúde, não podia fazer nada que aumentasse minha frequência cardíaca. Isso incluía subir escadas ou mesmo caminhar por mais de alguns metros. Essa situação me reverteu ao papel de quem anda devagar. Meu noivo, sempre gentil, me encorajava a não me preocupar com os outros e a seguir no meu próprio ritmo, me ajudando nas tarefas do dia a dia, como carregar compras ou buscar medicamentos.
Mesmo assim, as olhadas de desaprovação de estranhos e a forma como eram constantes os cortes de caminho por outras pessoas me deixavam desconfortável. Aprendi a me desviar de maneira quase automática quando ouvia alguém se aproximando rapidamente por trás.
Com o tempo, enquanto continuava meu repouso, comecei a notar os “passeios lentos” de uma maneira diferente. Percebi como algumas pessoas idosas faziam concessões nas calçadas, muitas vezes se afastando para que outros pudessem passar. Observei crianças voltando da escola, caminhando calmamente e admirando o mundo ao redor. Casais e amigos caminhavam juntos sem pressa, conversando e apreciando o momento. Isso trouxe um certo alívio, me fazendo entender que não precisava me apressar apenas por causa da pressão externa.
Um dos desafios que enfrentei foi descobrir como a vida pode ser inacessível para quem tem limitações. Para pegar um metrô, eu precisava encontrar estações com elevadores, o que se tornou uma tarefa longa e difícil. Atividades simples, como malhar para aliviar o estresse, se tornaram impossíveis. Muitas vezes, me peguei entediada e frustrada por não conseguir ter acesso ao mundo exterior como antes.
Atualmente, minha saúde melhorou e estou conseguindo me mover novamente, embora não tão rapidamente quanto antes. Quando vejo pessoas andando devagar, sinto uma conexão com elas. Entendo que nem sempre um ritmo mais lento é devido a problemas de saúde, mas, em muitas situações, decidi que não preciso ter pressa só por causa da expectativa dos outros. Recentemente, quando finalmente fiz uma caminhada no Central Park com amigos após meses, pedi desculpas por estar mais lenta. Um deles respondeu que era melhor assim, pois poderíamos apreciar as árvores que estavam começando a florescer. Essa experiência me ajudou a valorizar o momento presente, ao invés de apenas focar em chegar a um destino.