O governo dos Estados Unidos, sob a liderança do então presidente Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre produtos importados do México e do Canadá. Essa medida faz parte de um esforço para combater o tráfico de drogas, especialmente a entrada de fentanil, uma substância altamente perigosa, que tem causado um número crescente de overdoses no país. Trump afirmou que as tarifas têm como objetivo principal reverter o problema da entrada desse tipo de droga.
No entanto, especialistas em redução de danos, como Laura Guzman, diretora executiva da National Harm Reduction Coalition, alertam que essa estratégia pode ter consequências negativas. Ela explica que ao interromper o fluxo normal de drogas, as tarifas podem forçar usuários a misturarem substâncias que não costumam usar, aumentando o risco de overdose. Segundo Guzman, essa prática pode levar à contaminação das drogas, resultando em situações perigosas, pois as pessoas podem consumir algo que não conhecem ou que não esperavam.
Guzman mencionou que, historicamente, quando as autoridades intensificam a repressão ao tráfico de drogas, as cidades frequentemente veem um aumento nas mortes por overdose. Ela ressaltou que, embora seja compreensível querer diminuir a quantidade de fentanil que entra no país, ainda há uma produção significativa da substância dentro dos Estados Unidos que também precisa ser abordada.
Após o anúncio das tarifas, o governo mexicano, liderado pela presidente Claudia Sheinbaum, se opôs às alegações de que o México estaria colaborando com organizações criminosas para facilitar o tráfico de fentanil. Em resposta, ela sugeriu que os Estados Unidos deveriam concentrar seus esforços em lidar com a venda de narcóticos nas principais cidades americanas.
Além disso, Guzman criticou a maneira como o governo mexicano lida com o fentanil, citando a falta de reconhecimento de medicamentos como a naloxona, que é utilizada para reverter overdoses. No México, a naloxona é considerada uma substância controlada e, segundo ela, essa abordagem impede que medidas realmente eficazes sejam implementadas para salvar vidas.
Como resultado das tarifas americanas, o Canadá também anunciou que pretende responder com tarifas retaliatórias, afetando produtos que são relevantes para a base política de Trump, como laranjas da Flórida e bourbon do Kentucky. O debate em torno dessas medidas segue acirrado, e as autoridades canadenses questionam a lógica de penalizar um país amigo em detrimento de nações com uma participação significativa no tráfico de fentanil.
Em 2022, as autoridades de imigração dos EUA apreenderam mais de 21 mil quilos de fentanil na fronteira com o México, em comparação com apenas 43 quilos na fronteira com o Canadá. A situação se torna ainda mais complexa à medida que ambos os países tentam lidar com os impactos do tráfico de drogas e as repercussões das políticas implementadas.