A primeira fase do cessar-fogo entre Israel e o grupo Hamas, mediada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está em andamento. Apesar da desconfiança entre as duas partes e de algumas violações do acordo, essa trégua trouxe um alívio temporário para os cidadãos de ambos os lados, que enfrentam uma guerra que já dura 15 meses. O próximo desafio agora é avançar para a segunda fase do acordo.
Na terça-feira, dia 4, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, se reunirá com Donald Trump na Casa Branca. Essa é a primeira visita de um líder estrangeiro a Trump em seu novo mandato. Antes de viajar para Washington, Netanyahu expressou sua esperança de que seja possível alcançar uma “era de paz” no Oriente Médio. Trump também já deixou claro que deseja encerrar a guerra na Faixa de Gaza e, embora tenha prometido um cessar-fogo em sua campanha, admitiu que não pode garantir que essa trégua será mantida.
A segunda fase do cessar-fogo será mais complexa, pois envolve a retirada das tropas israelenses de Gaza e a criação de um plano para a reconstrução e a governança da região. Para Netanyahu, um acordo que ponha fim à guerra pode arriscar a estabilidade de seu governo, que conta com o apoio de partidos de direita que são contrários a um cessar-fogo.
A manutenção do cessar-fogo tem sido difícil. Nas últimas semanas, houve várias intervenções de mediadores para assegurar que a trégua fosse respeitada. No entanto, não há garantias de que o conflito não recomece. Recentemente, um avião israelense atacou um veículo em Gaza, o que indica que as tensões continuam.
Até o momento, a primeira fase do cessar-fogo, que durará 42 dias, viu tropas israelenses se afastarem de áreas populosas em Gaza, permitindo que palestinos retornassem ao norte do território. Treze reféns foram liberados até agora, e o acordo prevê a liberação de mais 20 nas próximas semanas, embora alguns possam não estar mais vivos. Em troca, Israel se comprometeu a libertar mais de 1,5 mil prisioneiros palestinos e permitir a entrada de cerca de 600 caminhões com ajuda humanitária na região.
Se um novo acordo for estabelecido, o Hamas se compromete a libertar os reféns restantes, que são principalmente soldados israelenses, em troca de mais prisioneiros e da retirada total das forças de Israel de Gaza. No entanto, o Hamas declarou que não libertará os reféns sem o fim da guerra e a retirada das tropas israelenses. Por outro lado, Netanyahu garantiu que a guerra só terminará após a destruição das forças armadas do Hamas.
Um possível terceiro estágio do acordo poderia envolver a devolução dos corpos dos reféns que não sobreviverem, além de um plano de reconstrução de Gaza que poderia levar de três a cinco anos, com supervisão internacional.
Em Israel, as discussões sobre o término da guerra podem ameaçar a estabilidade do governo de Netanyahu. Itamar Ben-Gvir, líder do partido de direita Poder Judaico, deixou a coalizão governamental após o cessar-fogo. Bezalel Smotrich, outro ministro e membro do Partido Religioso Sionista, permanece na coalizão e defende a continuidade das ações militares em Gaza, assim como a expansão dos assentamentos israelenses no território palestino.
Caso Smotrich decida sair do governo, isso poderá levar ao colapso da atual coalizão de Netanyahu. O líder da oposição, Yair Lapid, já se ofereceu para integrar o governo a fim de garantir a continuidade das negociações para a segunda fase do cessar-fogo, mas ainda não se sabe se Netanyahu aceitaria essa proposta.
Para encerrar a guerra, seria necessário que Israel admitisse que não conseguiu eliminar completamente a capacidade militar ou o governo do Hamas. Netanyahu definiu esse objetivo após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, que resultaram em 1.200 mortes e 250 sequestros.
Durante a libertação dos reféns, o Hamas aparentemente queria mostrar que ainda exerce controle sobre Gaza, apresentando novas tecnologias e armamentos. De acordo com informações de inteligência dos Estados Unidos, o grupo armou 15 mil novos combatentes desde o início do conflito.
O Hamas afirmou estar comprometido com a trégua e aberto para negociar a segunda fase do cessar-fogo. Mudanças políticas na região têm levado o grupo a buscar o fim da guerra, segundo analistas. Trump reafirmou seu desejo de alcançar um acordo de cessar-fogo antes de assumir oficialmente a presidência, em 20 de janeiro, e seu enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff, tem trabalhado para pressionar Netanyahu a aceitar o acordo.