Duas mineradoras com projetos promissores em Goiás, Serra Verde e Aclara, conseguiram financiamentos do banco estatal americano DFC, mesmo sem um acordo formal entre o Brasil e os Estados Unidos sobre minerais críticos. Esses empréstimos abrem espaço para que os Estados Unidos tenham prioridade na extração e comercialização de terras raras, um recurso estratégico muito importante.
Os contratos das mineradoras com o DFC indicam que os EUA estão buscando diversificar suas fontes de minerais, reduzindo sua dependência da China, que atualmente controla 60% da extração e 90% do refino dessas substâncias essenciais. Essa movimentação pode afetar o poder de negociação do Brasil em futuras interações comerciais.
A Serra Verde, que é a única mina de terras raras em funcionamento no Brasil, anunciou um empréstimo de US$ 465 milhões (mais de R$ 2,5 bilhões) para expandir suas operações. Embora os detalhes do acordo não tenham sido tornados públicos, especialistas acreditam que parte da produção deverá ser direcionada para o mercado dos EUA. A empresa também revisou seus contratos com compradores chineses para possibilitar o envio do material para clientes ocidentais.
Atualmente, apenas refinarias na China e na Malásia têm a capacidade de separar os elementos de terras raras. Contudo, os Estados Unidos estão investindo pesado para desenvolver sua própria infraestrutura e competir com o mercado chinês.
A Aclara, que também está com um projeto em Goiás, recebeu um financiamento de US$ 5 milhões (cerca de R$ 27 milhões) do DFC. A mineradora anunciou a intenção de construir uma refinaria nos EUA até 2028, a qual deverá processar o concentrado extraído no Brasil. Segundo a empresa, essa planta poderá atender até 75% da demanda americana por terras raras pesadas, essenciais para veículos elétricos.
É importante destacar que, embora o financiamento da Aclara não a obrigue a enviar toda a sua produção para os EUA, a criação de uma planta de refino fora do Brasil vai de encontro ao desejo do governo brasileiro de agregar valor à cadeia produtiva no país antes de qualquer exportação. Entretanto, as negociações entre Brasil e EUA continuam sem avanços significativos.
Experiências internacionais, como um recente acordo dos EUA com a Austrália, mostram que é possível fortalecer o processamento de minerais críticos por meio de parcerias. Porém, especialistas afirmam que o Brasil não depende exclusivamente de acordos governamentais para atrair investimentos, já que seu setor de mineração é aberto ao capital estrangeiro.
Apesar disso, o interesse dos EUA em formalizar entendimentos com o Brasil permanece, buscando assegurar acesso preferencial aos minerais estratégicos, como já foi feito em um acordo com a República Democrática do Congo. Esses movimentos refletem a crescente competição global por cadeias de suprimento que não dependam exclusivamente da China.