A Secretaria Municipal de Educação de Goiânia registrou 30 casos de bullying nas escolas até o dia 10 de dezembro de 2025. No entanto, a gerente de Inclusão, Diversidade e Cidadania da SME, Lianna Gusmão, acredita que o número real pode ser muito maior. Ela aponta que a subnotificação ocorre devido à falta de clareza na compreensão do que realmente configura bullying entre estudantes e educadores.
As escolas têm adotado a Ficha SIMAC, uma ferramenta desenvolvida em parceria com órgãos como o Ministério Público e o Conselho Tutelar, para registrar qualquer tipo de violação de direitos. O bullying é uma das situações que precisam ser documentadas. Uma vez notificado, o caso é automaticamente encaminhado para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e para o Conselho Tutelar, que são responsáveis por tomar as medidas necessárias.
Lianna explica que existe uma diferença importante entre um conflito ocasional e um caso genuíno de bullying, o que pode dificultar a identificação nas instituições de ensino. “As pessoas frequentemente confundem um ato isolado, como uma discussão física, com bullying. É um desafio compreender o contexto em que ocorrem essas situações”, afirma. Além disso, ela observa que determinadas interações e brincadeiras não devem ser classificadas como bullying, pois são esporádicas e não têm a gravidade necessária.
A gerente destaca que a maioria dos casos de bullying possui uma dimensão psicológica e muitas vezes envolve discriminação de gênero e raça. Crianças que não se encaixam nos padrões sociais, como alunos LGBTQIA+ e crianças negras, são as mais afetadas. Segundo ela, esses grupos enfrentam um número elevado de situações de bullying nas escolas.
Após a identificação de um caso, a Secretaria realiza mediações no ambiente escolar, com o intuito de esclarecer e promover ações pedagógicas entre os envolvidos. A SME não aplica punições administrativas, mas busca oferecer orientação e acompanhamento às vítimas e agressores.
Quanto ao mapeamento de casos por região ou escola, Lianna esclarece que isso só é possível quando o termo “bullying” é devidamente registrado na ficha. “Consigo mapear a situação corretamente apenas se a ficha for preenchida corretamente. Se eu olhar os dados agora, posso encontrar um caso de 2021 e outro somente em 2025, justamente pela dificuldade em entender o conceito”, diz.
A Prefeitura de Goiânia está implementando políticas de prevenção à violência nas escolas, que incluem palestras, capacitações, distribuição de cartilhas e parcerias com a Guarda Municipal e outras forças de segurança. Também são fornecidas orientações para identificar sinais de bullying e notificar corretamente as ocorrências.
As vítimas de bullying são encaminhadas pelo Conselho Tutelar para atendimento psicológico ou psiquiátrico na rede pública de saúde. Lianna ressalta que a Secretaria não pode fazer essa ligação diretamente, mas o Conselho garante que as vítimas recebam o suporte necessário.
Apesar dos esforços, Lianna reconhece que o número de notificações ainda não reflete a realidade dos casos. “O bullying é uma questão real que nem sempre é reconhecida. Estamos trabalhando para melhorar a capacitação das equipes e fortalecer a proteção das crianças”, conclui.