A estreia de Haonê Thinar na novela “Dona de Mim” marca um avanço importante na representação de pessoas com deficiência na televisão brasileira. Haonê, que é negra e teve uma perna amputada devido a um câncer na infância, interpreta a personagem Pam. Para ela, o que torna esse papel especial é o fato de Pam não ser definida por sua deficiência. “Não é um papel de coitadinha”, afirma a atriz.
Haonê expressa sua gratidão à autora Rosane Svartman e à equipe da novela por criar uma personagem que leva uma vida normal. Pam tem um trabalho, amigos e enfrenta desafios do dia a dia, assim como qualquer outra pessoa. “Ela vive intensamente”, destaca Haonê.
A atriz se mudou para o Rio de Janeiro para as gravações, trazendo seu bebê de apenas 20 dias, além de seu filho mais velho e seu marido. Esse esforço se deve à importância que ela atribui à representação de pessoas com deficiência na mídia. “Discutimos a luta antirracista, que é vital, mas o capacitismo ainda é muito normalizado. Muita gente não entende a gravidade disso, mas é importante discutir”, explica.
Pam trabalha em uma fábrica de lingeries e é amiga de outras personagens, vividas por Clara Moneke e Giovanna Lancellotti. A trama apresenta a personagem de forma leve, humorada, mostrando suas interações e problemas cotidianos sem destacar a deficiência como um obstáculo.
Nos bastidores, Haonê relata que todos a tratam com naturalidade, mesmo em relação às suas limitações físicas. Ela compartilha um momento em que gravou uma cena que exigia movimentos e danças, utilizando sua muleta de forma autêntica e como realmente faz em sua vida. Essa abordagem verdadeira é algo que a atriz valoriza.
Haonê também recorda de experiências anteriores em que sua deficiência era ocultada, como campanhas em que a filmaram apenas da cintura para cima. Ela menciona que já ouviu comentários de familiares dizendo que seria impossível trabalhar na TV por seu corpo. Agora, ela se sente realizada por estar em um espaço onde pode mostrar sua integralidade.
Com mais de dez anos de experiência em atuação, Haonê acredita que sua presença na novela pode inspirar muitas crianças amputadas no Brasil. “Muitas vezes, quando eu assistia às novelas, nunca via alguém como eu. Agora, essas crianças poderão se ver na tela e entender que é possível viver plenamente”, afirma.
Ela também comenta sobre a visão ainda comum de que a deficiência limita a vida. “Quando engravidei, algumas pessoas ficaram surpresas e perguntaram como eu poderia ser mãe. Isso mostra que ainda existe esse preconceito, mas a novela demonstra que a vida continua cheia de possibilidades”, completa.
Emocionada, a atriz expressa sua esperança de que muitos se sintam representados por sua história, enxergando-se na tela e pensando: “Ela é como eu”. Para Haonê, essa possibilidade de protagonismo é essencial.
“Dona de Mim” se passa principalmente no bairro de São Cristóvão, na zona norte do Rio de Janeiro, e acompanha histórias de vida conectadas à fábrica de Abel e os desafios de Leona e Marlon, os protagonistas da trama. A direção é de Allan Fiterman.