A comunidade quilombola de Mesquita, localizada em Cidade Ocidental, Goiás, comemora um momento significativo em sua história, que completa 280 anos em 2026. Em um reconhecimento recente, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) determinou que o território da comunidade tem uma área total de 4,1 mil hectares. Essa extensão é 80% maior do que o que a comunidade ocupa atualmente.
As aproximadamente 1.100 famílias, totalizando mais de duas mil pessoas, aguardam agora a fase de desintrusão, que visa remover ocupantes irregulares da área, incluindo fazendeiros que atuam no cultivo de soja.
Na visão de Walisson Braga, um jovem líder da comunidade, esse reconhecimento não só permitirá a recuperação de grande parte do território, mas também ajudará a interromper o desmatamento causado por grileiros, além de oferecer mais segurança para os moradores. Ele destaca a ligação da comunidade com a proteção ambiental e a exploração sustentável dos recursos naturais.
Walisson também mencionou os desafios enfrentados pelos moradores devido à grilagem, o que forçou muitos a aceitar empregos informais distante de suas casas. A notícia do reconhecimento territorial foi recebida com alívio, e a comunidade está se preparando para uma grande celebração durante a Festa do Marmelo, marcada para o dia 11 de janeiro. Este fruto é importante para a geração de renda local e simboliza a resistência da comunidade frente às invasões.
Em relação à reparação histórica, o Incra sublinha que o território ocupado desde o século 18 foi essencial para a construção de Brasília. A chefe da Divisão de Territórios Quilombolas do Incra no Distrito Federal, Maria Celina, destacou que essa decisão é um passo importante no processo de reparação aos descendentes de escravizados, que ainda enfrentam problemas com a grilagem.
Maria Celina também apontou que as invasões reduziram o acesso dos quilombolas a áreas para cultivo e moradia, além de interromper os caminhos tradicionais do território. Claudia Farinha, superintendente regional do Incra, ressaltou que o reconhecimento é fundamental para garantir o direito à terra ancestral e proteger as famílias da especulação imobiliária.
Pesquisas antropológicas mostram que os quilombolas de Mesquita contribuíram significativamente para a infraestrutura que apoiou os migrantes que chegaram a Brasília, além de serem responsáveis por parte dos alimentos que abasteceram as obras na região, em um período em que a produção local era escassa.