Eurostar sob nova concorrência: várias empresas querem entrar no mercado ferroviário no Canal da Mancha
Durante quase 30 anos, o Eurostar foi o único meio de transporte ferroviário a conectar o Reino Unido e a Europa continental através do túnel do Canal da Mancha. No entanto, mudanças recentes nas regras e um aumento na busca por opções de viagem com menor impacto ambiental despertaram o interesse de novas empresas no setor.
Embora as empresas britânicas e europeias estejam ansiosas para entrar no mercado, o início das operações não tem sido fácil. Contudo, sinais de mudança começam a surgir.
Mudanças na regulamentação abrem portas para novos operadores
Um novo relatório encomendado pelo Escritório de Estradas e Ferrovias do Reino Unido indicou que o Eurostar deve permitir o acesso a novos operadores em seu depósito de Temple Mills, que é o centro de manutenção da empresa. Além disso, a pesquisa recomendou que a HS1, a linha ferroviária de alta velocidade que liga Londres ao túnel, reduza suas tarifas, que atualmente são as mais altas da Europa, chegando a quase 30 euros por milha.
Com essas mudanças, cresce a expectativa sobre novas opções de travessia do Canal da Mancha. Várias empresas estão otimistas quanto ao sucesso de seus projetos e acreditam que a maior concorrência resultará em preços mais acessíveis para os passageiros.
Quais empresas estão interessadas em operar no túnel do Canal da Mancha?
Desde 2010, o túnel do Canal da Mancha está aberto à concorrência, mas nenhuma empresa havia tentado desafiar o monopólio do Eurostar até agora. Recentes mudanças nas regras e desafios legais têm incentivado o interesse de novas empresas em fornecer serviços.
O Grupo Virgin é uma das empresas que manifestou interesse em operar serviços ferroviários através do túnel até 2029. Conversas sobre a aquisição de uma nova frota de trens para essa operação já estão em andamento.
Outra iniciativa vem de um consórcio liderado por empresários espanhóis, chamado Evolyn, que planeja oferecer serviços de alta velocidade entre Londres e Paris. O consórcio já anunciou um acordo com a Alstom para adquirir 12 trens de alta velocidade para esse serviço.
A Gemini Trains, liderada por Lord Tony Berkeley, um aristocrata britânico e ex-engenheiro da Eurotunnel, também está buscando se estabelecer no mercado ferroviário. A empresa solicitou uma licença para oferecer serviços a Paris, Estrasburgo, Colônia e Genebra com uma frota de 10 trens até 2029.
Outras operadoras já mostraram interesse em acessar o túnel, como a Deutsche Bahn, que apresentou um trem de alta velocidade em Londres em 2010, demonstrando sua intenção de conectar Londres a cidades na Alemanha, como Frankfurt e Colônia, mas ainda não se juntou efetivamente à disputa.
Relatório traz novas esperanças para o setor ferroviário
Desde a abertura do túnel em 1994, o Eurostar teve o monopólio dos serviços entre o Reino Unido e a Europa. Apesar da abertura do mercado, as barreiras para novos entrantes continuam significativas. Os trens precisam ter dimensões específicas para se alinhar às saídas de emergência dos túneis, e poucos fabricantes conseguem atender esses requisitos técnicos. Além disso, o custo de adquirir novos trens, que varia de 35 a 60 milhões de euros cada, é um impedimento considerável.
Os operadores que desejam oferecer serviços trans-Mancha também necessitam de acesso a um depósito para manutenção. O terminal St. Pancras, em Londres, e Temple Mills estão sob controle do Eurostar, que frequentemente argumenta que este último já está operando em sua capacidade máxima.
Contudo, o novo relatório encomendado pelo escritório britânico sugere que essa limitação pode não ser tão rígida. Segundo a análise, há "alguma" capacidade disponível em Temple Mills que poderia ser utilizada para novos trens, com investimento.
O Grupo Virgin aplaudiu essas conclusões, afirmando que as alegações de que Temple Mills não pode acomodar novos serviços têm dificultado sua entrada no mercado. A empresa declarou que já não existem grandes barreiras e que está pronta para competir.
Apesar disso, o Eurostar defende que o relatório confirma sua posição de que o depósito já está em sua capacidade máxima e que seria necessário investimento para atender a demanda crescente de transporte ferroviário internacional.
Concorrência trará benefícios para os passageiros?
O aumento da concorrência entre os serviços do Eurotúnel é visto como positivo para os passageiros. Quando há mais concorrência em um mercado, geralmente isso significa preços mais baixos, melhores serviços e mais opções. O mercado ferroviário trans-Mancha não é uma exceção a essa regra.
Yann Leriche, diretor executivo da Getlink, empresa responsável pela exploração do túnel, afirmou que a concorrência tornará o mercado mais dinâmico, beneficiando todos os operadores e, consequentemente, os passageiros.
Ainda segundo especialistas, embora os preços podem diminuir com a concorrência, a variedade de opções é essencial para tornar os serviços ferroviários mais atraentes. Poder viajar diretamente para Londres a partir de cidades como Frankfurt e Genebra é um passo importante para que as viagens de trem se tornem uma alternativa viável em relação aos voos e ajudem a incentivar a escolha de meios de transporte mais sustentáveis com menor emissão de carbono.
Além disso, há a expectativa de que operações como a da Gemini Trains incluam mais opções de transporte no Reino Unido, como serviços a partir de Ebbsfleet, em Kent. Isso poderia, segundo especialistas, aumentar a acessibilidade e também facilitar a inclusão de bicicletas e cães nos trens, o que seria um atrativo a mais para os viajantes.