sexta-feira, 14 de novembro de 2025
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Resistir, sonhar e transformar a Guatemala

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[email protected] EM 10 DE NOVEMBRO DE 2025, ÀS 21:13

Antigua Guatemala é uma cidade que parece ter parado no tempo. Com suas ruas de paralelepípedos e ruínas coloniais, é um Patrimônio Mundial da UNESCO. Fundada no século XVI, foi a capital da Capitania-Geral da Guatemala por mais de 200 anos. Sua arquitetura barroca é marcada por igrejas e casarões coloridos que resistiram ao tempo, até mesmo ao terremoto devastador de 1773, que fez a cidade perder sua importância política.

Atualmente, Antigua preserva suas fachadas restauradas que contam a história de um passado glorioso. Entre essas memórias se destaca a trajetória de Ingrid Villaseñor. Nascida em 1970, na cidade da Guatemala, Ingrid cresceu em uma família amorosa, mas marcada pela turbulência política. Seu pai, um defensor dos direitos humanos, se tornou uma voz influente na luta por justiça social e reforma agrária, enfrentando grandes riscos em seu ativismo.

A vida de Ingrid mudou drasticamente quando seu pai foi sequestrado durante o conflito armado, quando ela tinha apenas 10 anos. A esperança de seu retorno permaneceu na casa, mas o medo muitas vezes tomava conta. A mãe de Ingrid, Argentina Villaseñor, se tornou a matriarca da família. Viúva jovem e ameaçada, ela trabalhou duro para sustentar suas filhas. No entanto, sempre advertia: “Não se envolvam com política. Não falem do seu pai.” O sobrenome Villaseñor trazia perigo, e a infância de Ingrid foi marcada pela necessidade de cautela.

A sociedade guatemalteca é rica em diversidade cultural e linguística, com 24 grupos e quatro povos principais: Maya, Garífuna, Xinca e Ladino. Contudo, mais de 61% da população vive em condições de pobreza, com 19,9% enfrentando pobreza extrema. A desnutrição infantil crônica, a baixa qualidade da educação e o acesso limitado à saúde são alguns dos desafios que o país enfrenta. Além disso, Guatemala pode ser severamente afetada por desastres naturais, que impactam desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis.

Ingrid Villaseñor, agora uma educadora e ativista, carrega o legado de seu pai. Ela se formou na Universidad de San Carlos de Guatemala, onde redescobriu seus valores de igualdade e justiça. Casada e mãe de dois filhos, Ingrid se mudou para Sololá, uma das regiões mais pobres do país, e testemunhou a disparidade entre o turismo e a dura realidade das comunidades locais. Motivada por essa situação, começou a trabalhar no fortalecimento da autonomia feminina e no desenvolvimento comunitário.

Ela fundou a organização “Tejiendo Futuros” em 2017, que visa promover uma educação transformadora e sustentável, conectando tradição e conhecimento local. Mesmo enfrentando barreiras sociais, as mulheres representam 51% da população da Guatemala, mas apenas 2% ocupam cargos de liderança nas prefeituras.

Ingrid destaca a importância das mulheres na luta por mudanças sociais. Referências como Rigoberta Menchú Tum, ativista e escritora guatemalteca, também inspiram essa transformação. Enquanto Ingrid trabalha por um futuro mais justo, ela se prepara para receber o Prêmio Global de Paz 2025, um reconhecimento pelo seu compromisso com a paz e a justiça social.

A trajetória de Ingrid e de muitas outras mulheres guatemaltecas é um exemplo de resistência e esperança na construção de um país mais igualitário e justo. Como ela mesma afirma, a força está na comunidade, e juntas, elas são capazes de moldar um novo futuro.

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