O jornalista Rodrigo Bocardi foi demitido da Globo por justa causa. A decisão da emissora ocorreu após uma investigação interna que analisou uma denúncia grave contra o ex-apresentador do telejornal “Bom Dia São Paulo”. A acusação levantada sugere que Bocardi estaria cobrando empresas de ônibus, coleta de lixo e obras públicas para não criticá-las durante suas reportagens. Ele nega as acusações e está se preparando para processar a Globo.
Além dele, a denúncia também envolve outro jornalista, identificado apenas como F.I.V., que tem uma agência de relações públicas e trabalha para partidos políticos e empresas que prestam serviços ao governo. F.I.V. é descrito como um especialista em gerenciamento de crises, atuando em situações delicadas, como quando um vereador enfrenta acusações de crime organizado.
De acordo com as informações, F.I.V. estaria operando um esquema que exigiria pagamentos significativos de empresários para evitar críticas das empresas por parte de Bocardi. O ex-apresentador da Globo, que possui três empresas de comunicação, estava prestando serviços de consultoria e media training, prática que a emissora já conhecia e aceitava.
Rodrigo Bocardi, orientado por seus advogados, não tem feito entrevistas, mas em conversas privadas, demonstrou indignação em relação às acusações. Ele se considera o jornalista mais crítico da emissora e afirma que nunca deixou de abordar temas polêmicos. Bocardi acredita que não existe evidência de que tenha protegido ou acobertado empresas ao longo de seus 13 anos de “Bom Dia São Paulo” e argumenta que muitas de suas reportagens eram feitas de forma improvisada, lidando com eventos que aconteciam de última hora.
Durante um questionamento por uma funcionária do compliance da Globo, Bocardi teria desafiado a investigação, afirmando que as provas estavam disponíveis em suas transmissões. Ele também declarou que não tinha autoridade final sobre os conteúdos que iam ao ar.
Bocardi e F.I.V. se conhecem bem, e muitos clientes de F.I.V. já foram alvos de reportagens da Globo. O assessor de imprensa explica que sua função sempre foi a de intermediar as comunicações entre os jornalistas da Globo e as empresas que atendia. Ele nega categoricamente qualquer tipo de conluio ou relacionamento que não fosse profissional com Bocardi e acredita que ambos estão sendo alvos de uma retaliação organizada.
Embora seja difícil de acreditar, a Globo não teria tomado uma decisão tão severa sem ter evidências concretas, especialmente em um caso de demissão por justa causa. A emissora fez um comunicado afirmando que Bocardi foi demitido por violar as normas éticas do jornalismo.
Demissões por justa causa em empresas de comunicação, como a Globo, são raras. No passado, houve casos de jornalistas demitidos, mas nenhum deles ocorreu sob as mesmas circunstâncias que o de Bocardi. Em 2019, por exemplo, o jornalista Mauro Naves foi desligado, mas em sua situação, a demissão não foi por justa causa e ele recebeu todos os direitos.
Pela legislação trabalhista, um funcionário demitido por justa causa não tem direito a certas verbas rescisórias, como a multa de 40% do FGTS ou aviso prévio. Ele só recebe os dias trabalhados, as férias proporcionais e o décimo terceiro proporcional. Bocardi trabalhou por 25 anos na Globo, embora em alguns períodos tenha atuado como prestador de serviços.
A emissora não fez comentários sobre o caso, apenas manifestando que a decisão foi tomada pelo setor de compliance.