A Rússia está enfrentando dificuldades com seu novo míssil balístico intercontinental, o Sarmat. A produção e o desenvolvimento desse tipo de armamento têm se mostrado problemáticos, especialmente porque a Rússia cortou laços com a expertise que antes dependia, principalmente devido à sua invasão da Ucrânia.
Historicamente, muitas fábricas e profissionais especializados em mísseis balísticos estavam localizados na Ucrânia. Após a queda da União Soviética em 1991, ainda havia uma forte ligação entre a indústria de defesa ucraniana e russa. A Ucrânia possui conhecimentos valiosos em tecnologia nuclear e de mísseis, além de habilidades de fabricação. Porém, a Rússia começou a diminuir essa dependência, mas não cortou totalmente os laços até que começou a conflitar com a Ucrânia em 2014.
O Sarmat foi projetado para substituir o antigo míssil R-36, conhecido na OTAN como SS-18 “Satan”. Enquanto a Rússia desenvolveu mísseis balísticos sólidos nos últimos anos, o Sarmat utiliza um sistema de combustível líquido, uma escolha considerada estranha por especialistas, já que a Rússia não tem experiência com esses mísseis terrestres há mais de 30 anos. O fato de que muitos dos engenheiros que trabalharam em modelos anteriores já se aposentaram ou faleceram contribui para os desafios que a Rússia enfrenta.
Após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 e o início do conflito no leste da Ucrânia, a Ucrânia interrompeu a cooperação militar e os contratos que permitiam à Rússia acesso à tecnologia e manutenção de mísseis. Isso gerou uma lacuna significativa nas capacidades de desenvolvimento e manutenção de armamentos da Rússia, que passou a depender quase que exclusivamente das suas próprias indústrias, que, segundo especialistas, não estão preparadas para assumir essa responsabilidade.
A situação se agravou em 2022, com a invasão russa da Ucrânia, o que resultou em sanções econômicas severas e diminuição das cooperações internacionais. O colapso da colaboração com a Ucrânia também viabilizou a aceleração dos planos da Rússia para desenvolver novos mísseis, mas isso não se concretizou da forma esperada. Desde 2014, os testes de mísseis da Rússia enfrentaram atrasos e falhas, como demonstrado por um teste frustrado do Sarmat em setembro passado, que resultou em uma explosão e um grande buraco ao redor do local de lançamento.
Além dos problemas técnicos, a economia russa é afetada pelas consequências econômicas da guerra e pelas sanções impostas internacionalmente. Especialistas afirmam que o governo russo está com recursos financeiros limitados para resolver os problemas em seu programa de mísseis.
Por fim, a Rússia ainda possui muitos mísseis operacionais que continuam a ameaçar países vizinhos e têm sido usados em conflitos, mas os desafios com o Sarmat, combinado com a falta de expertise e o encarecimento dos recursos, podem comprometer sua capacidade de manter uma força de mísseis eficaz a longo prazo.