No dia anterior à votação que elegeu o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como Papa Leão XIV, o teólogo Frei Betto comentou sobre a possibilidade de um papa dos Estados Unidos. Em uma entrevista, ele considerou essa possibilidade “muito remota”. Betto, que é dominicano, afirmou que sua experiência com a Igreja o leva a descartar cardeais dos EUA como candidatos. Ele citou a opinião de um cardeal com experiência em conclaves, que comentou sobre a rejeição a cardeais norte-americanos devido à sua riqueza e postura considerada arrogante.
Frei Betto também lembrou um episódio envolvendo o ex-presidente Donald Trump, que, segundo ele, intensificou o desconforto com os cardeais dos EUA. Em um momento controverso, Trump posou vestido de papa, o que gerou indignação dentro da Igreja Católica, inclusive entre os conservadores.
Apesar das previsões do teólogo, os cardeais decidiram romper com suas expectativas e elegeram Prevost. Nascido em Chicago em 1955, Prevost ocupava importantes funções na Cúria Romana, incluindo a liderança do Dicastério para os Bispos.
Betto havia apontado como favoritos outros cardeais, como os italianos e o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, mas observou que Tagle enfrentava o desafio de ser mais jovem, o que poderia fazer com que os cardeais evitassem um pontificado longo, semelhante ao de João Paulo II, que durou 26 anos. Ele acreditava que cardeais da África também estavam fora da disputa, já que todos eles, segundo Betto, eram conservadores e não pretendiam romper com a linha do Papa Francisco.
O teólogo sugeriu que o conclave levaria mais tempo para decidir, esperando que a escolha pudesse durar entre três a quatro dias, devido à dificuldade de alcançar o quórum necessário de dois terços. Ele destacou que a fragmentação entre os cardeais tornava o processo imprevisível, embora a escolha de Prevost tenha finalizado no mesmo tempo que os conclaves anteriores.
Frei Betto observou que havia cardeais com mais de 80 anos, que, embora não pudessem votar, ainda influenciam as discussões durante o conclave. Ele pediu atenção para o papel desses cardeais na formação de um ambiente de debate, apesar de não decidirem diretamente os votos.
Em relação à representação latino-americana, Betto lembrou que o Brasil tinha oito cardeais, com sete deles aptos a votar. Ele mencionou Leonardo Steiner como o mais alinhado ao pensamento do Papa Francisco, destacando seu trabalho em defesa dos povos da Amazônia e do equilíbrio ambiental.
Após a eleição de Prevost, Betto comentou que, embora ele tenha nascido nos EUA, seu tempo no Peru como sacerdote e bispo lhe dá esperanças de que continuará a linha de seu antecessor, o Papa Francisco. Ele também ressaltou a importância do nome escolhido por Prevost, que remete ao Papa Leão XIII, famoso por sua encíclica “Rerum Novarum”, que abordava questões trabalhistas e sociais.
Frei Betto expressou surpresa com a escolha de Prevost e também analisou criticamente o primeiro discurso do novo papa. Ele manifestou certa decepção, esperando um discurso mais voltado para a ação da Igreja no mundo, ao invés de algo focado apenas na fé e na piedade.